Por que certas músicas causam arrepios em quem as escuta?

Vito Zapata Olivera | 23 Outubro 2018

mulher com fones de ouvido a dançar ao escutar músicaA sensação de um leve arrepio pela espinha ao ouvir determinadas músicas é chamada de frisson, palavra em francês que significa "arrepios de bom gosto". Na verdade, o frisson pode acontecer em diversas situações distintas, como por exemplo, ao observar uma obra de arte que impressione, ao ter contacto físico com outra pessoa, ou até mesmo ao se entusiasmar durante uma jogada de cassino online.

Porém, de acordo com os cientistas, a forma mais comum de sentir essa sensação é através da música, e acredita-se que cerca de dois terços das pessoas consigam vivenciar o frisson dessa maneira. A explicação para isso está no fato de que determinadas fases de uma música, como a introdução de harmonias inesperadas e mudanças repentinas do tom da canção, surpreendem os ouvintes positivamente, o que pode desencadear o sentimento do frisson.

Seria o frisson uma herança evolutiva?

Uma parcela da comunidade científica acredita que os arrepios sentidos durante o frisson são um traço evolutivo herdado de ancestrais distantes, que precisavam disso para eriçar os pêlos dos braços e das pernas para se manterem aquecidos e reterem o máximo de calor corporal possível. Porém, com o avanço da humanidade e o surgimento das vestimentas, os seres humanos foram deixando cada vez mais de sentir esses arrepios por razões ligadas exclusivamente a temperatura.

Sendo assim, essa herança evolutiva foi ganhando traços psicológicos com o passar dos anos, o que explica o motivo pelo qual muitas pessoas sentem o frisson atualmente em função de estímulos emocionais, ligados a música e a arte, por exemplo. Na tentativa de compreender melhor as características de quem sente essa sensação, alguns especialistas já concluíram que o frisson é mais suscetível de ocorrer nas pessoas que apresentam uma imaginação mais aflorada e que estão constantemente à procura de novas experiências.

Mais detalhes sobre a ocorrência do frisson

Em um estudo recente publicado na revista científica Psychology of Music, um grupo de pesquisadores tentou traçar um perfil ainda mais detalhado das pessoas que são capazes de sentir o frisson com uma frequência elevada, com o foco específico nessa sensação através da música. Os participantes desse experimento foram convidados a escutar uma playlist de canções clássicas que já são conhecidas por despertarem frisson em uma grande parcela das pessoas que as escutam, a qual incluiu músicas como "Oogway Ascends", de Hans Zimmer, e "Mythodea: Movement 6", de Vangelis.

Conforme os participantes escutavam as músicas, os pesquisadores foram monitorando outras sensações apresentadas pelos voluntários e os momentos específicos em que o frisson era sentido. Ao comparar esse conjunto de informações com os questionários de personalidade respondidos antes do estudo começar pelos próprios participantes, foi possível chegar a conclusões inéditas sobre o tema.

De acordo com os pesquisadores, o que diferencia as pessoas que experimentam o frisson é que estas provavelmente conseguem mergulhar mais a fundo na melodia ou na apreciação de uma obra de arte, dedicando uma parcela consideravelmente maior de suas capacidades cognitivas a essa experiência. E além de terem mais chances de sentirem o frisson, essas pessoas também vivenciam essa sensação de forma mais expressiva e intensa, algo que ainda não havia sido observado até então.